JOGOS: Fort Solis | Análise

19.9.23

Recentemente tivemos acesso a mais um título, desta vez Fort Solis, na versão para a plataforma PlayStation 5, um jogo de ficção científica, mas com aspetos de terror.

Desenvolvido pelos estúdios ingleses Fallen Leaf em parceira com a Black Drakkar Games e publicado mundialmente pela Dear Villagers, Fort Solis apresenta uma proposta interessante, apostando forte na narrativa, integrando aqui e ali alguns momentos intensos de horror, num ambiente de ficção científica. É um género que certamente não agradará à primeira vista a todos os amantes dos videojogos, porém existe sempre um núcleo de fãs específicos de um determinado estilo, restando saber se Fort Solis conseguirá efetivamente atingir o desígnio a que se propôs.

A trama de Fort Solis segue as pisadas de Jack Leary, um engenheiro espacial, que foi destacado para investigar uma chamada de emergência vinda da base (que dá o nome ao jogo) Fort Solis, situada num dos planetas mais intrigantes do sistema solar, Marte. Jack e Jessica, membros de uma colónia de nome Fort Minor, também ela situada no planeta vermelho, encontravam-se a ultimar a sua base para a chegada de uma tempestade, quando são surpreendidos por um alarme vindo de Fort Solis, uma estação de mineração. Jack parte de imediato em busca de perceber o que se passa, mas assim que chega à base, depara-se com alguns mistérios, desde logo a ausência total dos respetivos funcionários. Completamente surpreso, Jack assume por sua conta e risco a exploração da base, deparando-se com suspeitas manchas de sangue em determinados locais, até encontrar alguns cadáveres de membros da equipa de mineração, com marcas de esfaqueamento.

Jack assume por sua conta e risco a exploração da base, deparando-se com suspeitas manchas de sangue em determinados locais, até encontrar alguns cadáveres de membros da equipa

Neste tipo de jogos, ou até mesmo nos filmes do mesmo género, o nosso subconsciente remete-nos de imediato para a ligação dos trágicos acontecimentos aos extraterrestres ou monstros tenebrosos que habituam as zonas inexploradas. Porém, em Fort Solis, essa situação não se verifica, pois rapidamente conseguimos perceber que os motivos dos crimes, são fruto dos relacionamentos complicados entre os seres humanos, motivados por questões políticas, ideais antagónicos e princípios diferentes. O papel do jogador assume contornos essencialmente de investigação, contrastando com outros jogos, onde passamos diretamente para a ação frenética e intensa, disparando ferozmente contra os inimigos e adversários. Resolver o mistério da tripulação desaparecida, tomar decisões cruciais e escapar do complexo, são os seus principais objetivos.

O papel do jogador assume contornos essencialmente de investigação...

Na minha opinião, a proposta de Fort Solis era relativamente interessante, apostando mais vincadamente em algo semelhante ao suspense investigativo, relegando para segundo plano a habitual jogabilidade mais movimentada e intensa. Existem alguns bons exemplos no mercado de videojogos que conseguiram de uma forma sustentada e apesar de uma jogabilidade também ela limitada, captar toda a atenção dos jogadores. De imediato sou capaz de indicar quatro, Detroit: Become Human e Until Dawn, num plano mais recente e atual, Heavy Rain e Beyond: Two Souls, ligeiramente mais antigos. Fort Solis, não consegue atingir o mesmo patamar, porque convida poucas vezes o jogador a ser o protagonista e quando o faz, fica o sentimento de alguma frustração, pois pouco ou nada tem consequência real na trama. De uma forma sucinta e talvez demasiado simplista, o jogador apenas tem de percorrer os caminhos do mapa, ler documentos e relatórios, ver videologs e pouco mais. E para complicar um pouco mais, a personagem não possui a capacidade de correr, (com exceção dos momentos em que se sente ameaçada, que são raros) ou seja, toda a sua movimentação é feita a passo lento, o que chega a ser desesperante em determinadas ocasiões.

E o amargo de boca ainda é maior, pois a narrativa até é bastante interessante e intrigante, uma autêntica aventura cinematográfica de ficção científica, cativando o jogador em muitos momentos. Para esse aspeto, em muito contribuíram dois grandes fatores, quem escreveu a história e o bom trabalho protagonizado pelos atores que deram vida às personagens principais. Roger Clark (Arthur Morgan de Red Dead Redemption II), Julia Brown (World on Fire ou The Last Kingdom) e Troy Baker (The Last of Us ou Death Stranding).

...a personagem não possui a capacidade de correr, (com exceção dos momentos em que a personagem se sente ameaçada, que são raros)

Um pormenor interessante e destacado pelos próprios desenvolvedores do jogo, que atesta muito daquilo que os jogadores podem esperar de Fort Solis e que passo a transcrever na sua íntegra: Fort Solis oferece uma peça híbrida com ênfase na narrativa e na imersão. Contado em quatro capítulos, Fort Solis pode ser apreciado numa sessão intensa ou capítulo por capítulo como uma série de TV.” Na prática, um filme ou série interativa, mas, na minha forma de analisar, como muita pouca (ou nenhuma) interação.

O grafismo de Fort Solis, assente no poderoso motor do jogo Unreal Engine 5, também contribui para que o jogador se sinta imerso na demanda, uma vez que é repleto de detalhes, todos eles bem conectados com aquele ambiente taciturno de ficção científica. Os cenários são bastante favoráveis, nada atrás de outros existentes em títulos como Dead Space ou The Callisto Protocol, deixando uma atmosfera sinistra e intensa, mas salvaguardando desde logo a devida distância, pois não existem os tenebrosos inimigos que esses dois títulos possuem. De salientar, que que idioma português, está incluso neste título, quer nos menus como nas legendas, o que é sempre de louvar e destacar.

O grafismo de Fort Solis, assente no poderoso motor do jogo Unreal Engine 5, também contribui para que o jogador se sinta imerso na demanda...

Resumindo, Fort Solis é efetivamente agridoce. A narrativa imersiva, muito bem suportada pelo conjunto de atores que dão vida aos protagonistas, é claramente posta em causa pela quase inexistente jogabilidade, não permitindo que atinja os patamares que outros títulos similares conseguiram.   

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas


 
 

  • Share:

Também poderá gostar de

0 comments