JOGOS: Death Stranding | Análise

29.11.19


Num período em que a oferta em videojogos é de tal ordem elevada, existindo jogos para todos os gostos e feitios, eis que chegou o momento de Death Stranding, talvez o título mais aguardado do ano e que consequentemente aquele que tem a fasquia mais alta no campo da expectativa, sendo necessário comprovar na prática aquilo que os jogadores esperam ou pensam que esperam.

Em jeito de introdução, Death Stranding é a primeira grande produção, depois de abandonar os estúdios da Konami, do mundialmente conhecido Hideo Kojima, o criador nipónico que deu origem à consagrada e idolatrada série Metal Gear Solid. Depois do divórcio, Kojima decidiu abraçar este projeto, firmando um acordo com a Sony Interactive Entertainment para a criação de um título completamente diferente do que existe no mercado e com a chancela do criativo japonês, ou seja, algo excêntrico e plural de interpretações.


Todo o título é um constante desafio, por isso, até para resumir em palavras a história que serve de base para Death Stranding é um exercício tremendamente complexo, isto porque, tal como referi acima, Hideo Kojima tem por norma criar tramas que possuem diferente tipos de aceções. Pelo que pude experienciar e na minha perspetiva, Death Stranding é algo relacionado com as ligações entre os seres humanos. Tal como nos dias de hoje, as pessoas estão ligadas através de palavras, contactos, emoções e muito mais, mas no mundo onde a ação decorre, os Estados Unidos da América, depois de uma horrenda devastação, onde um cataclismo dizimou inúmeros habitantes, deixando outros separados e incomunicáveis, ou seja, sem ligação. Para além de originar essa quebra de ligação na humanidade, a catástrofe trouxe outros perigos, uns seres malignos intitulados de “BTs” que se alimentam literalmente de humanos e para piorar ainda mais a situação já de si inóspita, a chuva (Timefall) que precipita diversas vezes, tem o condão de envelhecer rapidamente tudo o toca. Confusos? Ainda nem a meio chegamos da minha tentativa de explicação!


E é neste panorama nada animador que entra em cena o personagem principal de Death Stranding, o famoso Norman Reedus, que ficou célebre na interpretação da personagem Daryl da série The Walking Dead. Em Death Stranding, Norman Reedus dá vida a Sam Porter Bridges, uma espécie de estafeta, que entrega encomendas ou mercadoria nos mais dispares locais onde ainda existe população. Sam não é um humano qualquer, para além de destemido e corajoso, possuí uma espécie de doença (será) de nome DOOMs que o torna menos vulnerável, mas não totalmente imune, à Timefall e ao mesmo tempo, em caso de falecimento, tem a particularidade de conseguir regressar ao seu corpo. Face a esse designo, Sam afigura-se como ideal para enfrentar as condições em que os EUA se encontram, sendo um dos responsáveis por tentar voltar a conectar as pessoas entre si, unindo novamente os povos e o que resta da população. Para terminar esta introdução na trama, resta-me salientar que Sam irá receber um importante mecanismo que nos irá ajudar e de que maneira na nossa aventura, nada mais nada menos que um bebé! É conhecido por BB e que em ligação com Sam, consegue detetar os infames “BTs”, para além de outras funções especiais que prefiro que sejam vocês a descobrir quando jogarem Death Stranding. Mas isto tudo é o que eu acho que acontece, porque as produções de Kojima são repletas de diversidade de interpretações, com inúmeros recados subliminares dirigidas à sociedade atual e até eventualmente políticas.

Noutro plano, Death Stranding também apresenta um conjunto único de atores, que me atrevo mesmo a referir que nenhum outro título conseguiu reunir, pelo que até nesse aspeto se mostrou muito frente dos restantes. Para além do já indicado anteriormente Norman Reedus da série The Walking Dead, Mads Mikkelsen (de Rogue One: Uma História de Star Wars ou Hannibal), Léa Seydoux (de 007 Spectre), Margaret Qualley (de Era Uma Vez em… Hollywood) e até mesmo o produtor Guillermo del Toro, só para citar alguns dos mais famosos.

 
Perante os argumentos apresentados mais acima, ou seja, uma história surreal com um enredo fantástico, Death Stranding tinha muito a provar no campo da jogabilidade e apesar das inúmeras criticas apontadas por se assemelhar em demasia a um “walking simulator”, pessoalmente não concordo na totalidade, mas passo a explicar. Não vou negar que em muitos momentos (talvez excessivos) senti um pouco essa frustração, onde o objetivo principal é ir do ponto A ao B, quer a pé ou como o auxilio de veículos, atravessando terrenos bastante irregulares e perigosos, com o objetivo de entregar a encomenda que nos foi confiada. Porém, e apesar de ser mesmo essa a premissa do jogo, a história está tão bem estruturada que nos deixa rendidos ao ecrã, querendo saber o que se irá passar a seguir, que rapidamente nos esquecemos dessa situação mais enfadonha.

Mas não pensem que é só andar de um local para o outro, pois também existem combates e lutas sobretudo desiguais. Sam tem a capacidade de utilizar armamento contra a ameaças, desde metralhadores a granadas, mas a maior parte das vezes é aconselhável utilizar uma movimentação muito mais “stealth”, passando ao lado dos riscos. Quando isso não for possível, temos que estar o mais preparado que conseguirmos, principalmente o nosso stock de granadas e sacos de sangue, para atacar os incautos e restaurar a nossa energia. Para além dos BTs, existem em diversas zonas do mapa outro tipo de inimigos, uma espécie mercenários que apenas nos querem saquear as cargas que transportamos, pelo que todo o cuidado é pouco quando embarcamos em mais uma entrega.


Visualmente Death Stranding vai mesmo mais longe, apresentando cenários completamente épicos, que muitas, muitas, muitas vezes nos deixam completamente estupefactos. A constante presença de detalhes como por exemplo, a destruição de alguma vegetação e partes de edifícios devido à queda da Timefall ou o contraste entre as bases futuristas e extremamente organizadas com a ruínas e devastação de zonas abandonadas, são apenas alguns que cito, pois o título está muito bem desenvolvido nessa vertente. Outra questão que tem que ser abordada é a captura de movimentos e expressões faciais que foram tão incrivelmente conseguidos em Death Stranding. Os atores estão tão perfeitamente recriados que me atrevo mesmo a afirmar que, daqui para a frente todos os títulos deviam ter neste jogo um exemplo a seguir. 

Uma palavra muito especial para a versão portuguesa, onde o ator Pêpê Rapazote dá voz a Sam Bridges, não ficando nada aquém da versão original. É como muito orgulho e prazer que vejo a contínua aposta da PlayStation em fazer a dobragem para PT-PT dos seus exclusivos, dando-lhes uma vertente bem nacional e muito nossa, tal como aconteceu em Horizon: Zero Dawn, God of War, Mavel’s Spider-Man e também irá certamente suceder no tão aguardado The Last of Us Part II.


Em suma, Death Stranding irá certamente arrecadar inúmeros prémios da industria dos videojogos e talvez mesmo o mais ambicionado título, Game of The Year. A sua complexa narrativa, mesclada com um trabalho ímpar na parte gráfica fazem mesmo de Death Stranding algo sem igual, mas como tudo na vida, nada é perfeito e nem agrada a todos da mesma forma.

Esta análise foi realizada através de uma cópia cedida pelo representante nacional de relações públicas da PlayStation Portugal.

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