JOGOS: Ghost of Tsushima | Análise

14.7.20


Pelas mãos do talentoso estúdio de desenvolvimento Sucker Punch Productions, mundialmente conhecido no universo dos videojogos pelo excelente trabalho protagonizado na saga Infamous, chega até nós no próximo dia 17 de julho o tão aguardado Ghost of Tsushima.

A história centra-se nas vivências de Jin Sakai, o último samurai vivo depois da devastadora invasão do Império Mongol no século XIII. A ilha de Tsushima, um dos últimos locais que o temível general Khotun Khan, líder do exército mongol, pretende a todo o custo conquistar, vive tempos terrivelmente complicados para a sua população. Jin, o honrado samurai, pretende não só proteger o seu povo como recuperar a sua terra natal, no entanto terá que abandonar o código de honra muito valorizado e respeitado pelos samurais, até mesmo pelos os seus inimigos, para fazer face ao tenebroso momento.


Recorrendo a diversas analepses, somos brindados com pequenos momentos onde podemos atestar a educação samurai que Jin teve, pelas mãos do seu tio Shimura, depois da morte do seu pai. Uma educação assente em princípios nobres bem patentes no código Bushido, onde até o mais perigoso dos inimigos deverá ser encarado com honra e respeito, mesmo em combate. No entanto, depois da invasão indigna dos Mongóis, Jin vê-se no meio de um dilema complexo e tem que tomar a decisão mais difícil da sua vida, honrar os princípios da educação samurai e enfrentar uma luta que será impossível de sair vitorioso ou pôr de lado esses princípios e fazer justiça por todos os meios necessários, mesmo aqueles menos honrados. Jin terá de renunciar às tradições dos samurais, recorrer a métodos não convencionais e forjar um novo caminho: o caminho do Fantasma.

No decorrer da sua demanda e num gigante mapa de mundo aberto, que Jin com o auxilio do jogador, poderá explorar livremente e onde será constantemente posto à prova, contará com o seu fiel cavalo, que o transportará pelas diversas e belíssimas zonas, deparando-se com inúmeros biomas e centenas de pontos de interesse. O mundo de Ghost of Tsushima é repleto de surpresas e onde a natureza é a chave do jogo, possuindo uma mecânica única chamada Vento Guia, que ajuda a guiar o jogador até ao seu destino através do vento. Nesse mundo o jogador terá missões da história principal e uma espécie de missões secundárias, que podem ser facultativas, mas algumas serão importantíssimas para o desenrolar da história. O jogador no seu percurso irá deparar-se com pedidos de auxilio por parte de estranhos, que depois de ajudados poderão ser uteis ou não mais à frente na história. De salientar que a traição é um aspeto bem presente no mundo de Ghost of Tsushima, por isso devemos estar bem cientes dessa pesarosa situação, que de certo modo adiciona controvérsia e realismo ao jogo. Por outro lado, também iremos encontrar conselheiros e sábios, que nos poderão indicar o melhor caminho a seguir ou a melhor decisão a tomar.


A nível visual, Ghost of Tsushima é um autêntico regalo para os nossos olhos, destacando desde logo a natureza, que para além de estar extremamente bela, tem a sua importância no jogo. É claramente percetível que esse foi um dos pontos em que a Sucker Punch mais tempo e trabalho dedicou, detalhando o mapa de todas as formas possíveis e imaginárias. A ilha japonesa Tsushima apresenta-se cheia de montanhas e densas florestas onde a cor predominante é o verde e diversos rios de águas cristalinas, onde a vida animal também marca presença, que se por um lado alguns nos irão auxiliar, outros, bem mais agressivos, nem por isso. Nos confrontos, a barbaridade e sanguinolência da guerra também está assertivamente representada, contrastando com a beleza da natureza. Ainda no campo do grafismo e para finalizar, um detalhe salta à vista, principalmente para os fãs mais acérrimos do cinema nipónico de Akira Kurosawa, pois é possível ativar um filtro a preto e branco, que recria o aspeto dos filmes clássicos de samurais. Resta-me indicar que o título foi jogado numa PlayStation 4 de primeira geração e tudo funcionou perfeitamente.

Avançando para o capítulo da jogabilidade, em Ghost of Tsushima a curva de aprendizagem dos comandos, movimentações e ataques não é das mais lineares, no entanto assim que assimilamos todas as instruções e sobretudo os momentos precisos em que temos que saber defender ou atacar, as coisas começam a fazer sentido. Uma boa observação do adversário, na tentativa de perceber as suas movimentações é fundamental para termos o sucesso desejado, podendo assumir posturas bastante díspares. Por um lado, podemos abordar os inimigos num confronto assumido e destemido, frente a frente e muitas vezes com mais hostis em simultâneo, onde temos que fazer uso das nossas habilidades e aptidões mais vincadamente, por outro lado, podemos adotar uma atitude mais silenciosa, apostando na surpresa e eliminando inimigo um a um. Durante o desenrolar da ação, Jin irá descobrir novas técnica de combate, diferentes armaduras e com valências distintas de acordo com a postura de ataque que for selecionada, por exemplo existem vestimentas próprias para auxiliar a personagem quando opta pelo modo mais stealth, outras que aumentam a proteção no confronto físico, ficando a cargo do jogador a sua escolha. Um aspeto que me apraz indicar, é a sensação de enorme deleite quando conseguimos acabar com um grupo de distintos inimigos em poucos segundos, ficando com aquele sentimento de dever cumprido e de uma forma tão acérrima, como um autêntico samurai.


A sonoplastia alicerçada numa produção musical extensa e épica que acompanhará os jogadores ao longo do seu percurso pela ilha de Tsushima, também se apresenta a um nível muito alto, complementando de forma vincada e fundamental a aventura. De forma a conseguir uma trama musical mais diversificada e consistente com a história e a ação do jogo, o estúdio de desenvolvimento contou com dois grandes e reconhecidos compositores, IIan Eshkeri e Shigeru Umebayashi. Todos os sons da fauna e flora foram detalhadamente recriados ou os efeitos sonoros das grandes batalhas, acrescentando valor e mais realismo à experiência. Ghost of Tsushima pode ser jogado completamente na linguagem portuguesa, o que é sem dúvida uma mais valia, no entanto, na minha opinião pessoal e muito particular, com os idiomas nativos a experiência é elevada a outra patamar, aproximando-a ao plano cinematográfico.

Resumindo, Ghost of Tsushima é um título que conjuga os principais fatores de um jogo de uma forma incrivelmente assertiva e bem cuidada. Tudo foi pensado ao pormenor, ao mais ínfimo detalhe e realmente resulta numa experiência imperdível mesmo para aqueles não são os maiores mais do universo dos samurais. É seguramente um dos títulos que marcará este ano difícil de 2020 e atrevo-me mesmo a afirmar que entrará num lote restrito dos melhores jogos desta consola.

Esta análise foi realizada através de uma cópia cedida pelo representante nacional de relações públicas.

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