JOGOS: Cuphead | Análise

18.8.20

Lançado em exclusivo para para a Xbox One e PC, em setembro de 2017 e mais tarde, abril de 2019 para a Nintendo Switch, Cuphead foi recentemente disponibilizado para a PlayStation 4, mais concretamente em finais de julho de 2020, sendo a plataforma escolhida para a análise que se segue.

Criado pelos estúdios de desenvolvimento StudioMDHR Entertainment, fundado pelos irmãos Chad e Jared Moldenhauer, Cuphead foi inspirado nas séries televisivas de desenhos animados dos anos 30, nomeadamente as dos Fleischer Studios. O título é carinhosamente apelidado pelos próprios criadores como um jogo de género run and gun.

A história de Cuphead é bastante simples e passa-se na Ilha Tinteiro, onde as duas personagens principais, os irmãos Cuphead e Mugman, permanecem sobre a vigilância atenta do experiente e sábio Elder Kettle (Velha Chaleira). Porém, face à irreverência e curiosidade própria da juventude, os irmãos decidem arriscar a sua sorte no casino da ilha e avançam confiantes para uma mesa de dados. Cativados pela sorte efémera, decidem continuarem a jogar sem parar até que surge em cena o diabo com uma proposta deveras tentadora, receberem todo o dinheiro do casino em caso de mais uma vitória, mas se forem derrotados, o diabo ficaria com as suas almas. Visivelmente cegos de ganância, os jovens irmãos não pensam nas consequências e arriscam jogar, acabando por perder. Perante o cenário assustador, Cuphead e Mugman apelam ao diabo e este decide dar uma segunda hipótese, no entanto estes tinham que conseguir recolher até à meia noite do dia seguinte, os “contratos de alma” dos seus devedores. Se fossem bem-sucedidos, mantinham as suas almas, caso contrário perdiam-nas para sempre. De regresso a casa, eles contam o sucedido a Elder Kettle que para os ajudar na insana demanda, fornece-lhes uma poção mágica que faz disparar tiros dos seus dedos, avisando-os que terão uma tarefa árdua pela frente.

Um jogo deste estilo tem que ter obrigatoriamente uma jogabilidade simples e de rápida absorção, sendo que em Cuphead isso efetivamente se verifica, uma vez que poucos são os botões que temos ao dispor. Na prática existe um comando para disparar, outro para saltar e outro para desviar, para além dos auxiliares que são apenas usados para escolher o tipo de disparo e obviamente os direcionais. Simples, certo? Porém o segredo está na temporização do aperto do botão, que tem que ser exatamente no momento certo, na altura certa e na hora certa, senão, a perda de uma vida é garantida. E não se deixem enganar pela simplicidade da jogabilidade, pois o jogo é incrivelmente complexo, no entanto mesmo tempo desafiador e viciante. Foram inúmeras as vezes que afirmei mentalmente para mim mesmo que só fazia mais uma tentativa, quando na realidade passavam-se largos minutos e ainda estava a suar para tentar terminar determinada fase. Em cada nível principal existem dois modos de jogo, o simples ou o regular, um mais desafiante do que o outro, respetivamente, mas não esperem facilidades em nenhum deles, porém só o regular é que permite recolher o contrato de alma, assim que o terminarem com sucesso.

Durante o progresso irão encontrar formas de evoluírem as nossas personagens, como por exemplo utilizando armamento mais poderoso ou novos movimentos especiais, sendo que uns são mais úteis em determinadas fases, outros nem por isso. O melhor mesmo é ir experimentando ao longo da aventura, pois certamente irão perder e recomeçar de novo inúmeras vezes, lembrando que não existem checkpoints, o que significa que se perdem todas as vidas, necessitam de começar o nível desde o início. Se a frustração e alguma raiva não tomarem conta de nós, estão garantidas horas de jogo, transformando Cuphead num perfeito exemplo de uma longevidade de sucesso, sem ter que investir desmesuradamente em fases ou missões secundárias como alguns grandes títulos o fazem, só para aumentarem o tempo que os jogadores passam no jogo.

Resta-me deixar uma palavra para o grafismo, que está sublime, recriando perfeitamente o ambiente dos desenhos animados daquela época. E mesmo em alturas de tremenda azáfama, que são imensas, o jogo flui naturalmente e assertivamente. É realmente prazeroso, não só voltar às animações ou banda desenhadas dos anos 30, como agora é possível vivenciar por dentro sendo a personagem principal da aventura. Para finalizar, uma menção honrosa para a banda sonora, composta por Kristofer Maddigan que faz do jazz o tema principal e que dá um cunho particular a esta aventura. Ainda nesta área, nota pela negativa pelo o facto de não exisitir o idioma Português nos menus e informações do jogo, apesar de existir o Português do Brasil, o que para mim é incompreensível nos tempos que correm, uma vez que os custos nem são de todo elevados.

Em suma, Cuphead é um título tremendamente desafiante e intenso, situando-se mesmo na fronteira entre alguma frustração e agonia. Acredito que aqueles que não tiverem a dose certa de paciência irão abandonar rapidamente, porém os que apreciam um bom desafio, certamente irão ficar viciados.

Esta análise foi realizada através de uma cópia cedida pelos estúdios de desenvolvimento do jogo.

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