Desenvolvido pelo estúdio francês Asobo Studio, responsável por jogos como ReCore ou o premiado Ratatouille e distribuído pela Focus Home Interactive, chega-nos um distinto título, A Plague Tale Innocence, onde o jogador necessita de sobreviver a um clima agonizante, em pleno século XIII, quando a população enfrentou uma das maiores epidemias da história, a Peste Negra.
Recorrendo um pouco à história
mundial, a Peste Negra foi uma das mais maiores e mais devastadoras pandemias
que à memória, dizimando milhões de pessoas, sobretudo na europa e ásia.
Aproximadamente 200 milhões de vítimas são os números indicados nos registos
sobre a Peste Negra, nomeadamente no período entre 1346 a 1353, o auge da
pandemia. A disseminação da doença teve origem numas bactérias existentes nas
pulgas dos ratos, mais concretamente o rato preto indiano, que facilmente
mudava de local através dos navios que trafegavam do oriente para a europa.
Naquela época, a proximidade de ratos com as pessoas originou que rapidamente a
doença proliferasse, contagiando inúmeros cidadãos de forma avassaladora.
É nesse tenebroso cenário que as
incidências do jogo ocorrem, onde o jogador assume o papel Amicia, uma jovem adolescente
de 15 anos, que vive tranquilamente com os restantes elementos da sua família,
numa pacata província de França. No entanto, face ao avanço incontrolável da
pandemia, os problemas começam a surgir muito rapidamente. Os conflitos da
Guerra dos 100 Anos assolam a nação francesa e originam a separação com os
familiares, nomeadamente o pai que é assassinado brutalmente pelos cavaleiros
da Inquisição Católica, precipitando que Amicia assuma o papel de protetora
do seu irmão Hugo, não só procurando escapar à detenção, como tendo que lidar
com a praga mortífera de roedores.
A Plague Tale Innocence é
uma aventura na terceira pessoa, muito conotado com o lado histórico e bíblico
do espaço temporal onde decorre a ação, tendo como base de fundo um tipo de
ação furtiva, mais inclinada para o evitar dos inimigos e/ou situações que nos
vão aparecendo pela frente, do que propriamente o enfrentar dos hostis olhos
nos olhos. Para além desse aspeto, a jogabilidade, apesar de na sua grande
maioria se resumir a isso mesmo, contêm um pouco de outro tipo de elementos,
como por exemplo, a resolução de alguns quebra-cabeças que poderão ser
solucionados com o auxilio de objetos existentes no meio ambiente ou recorrer à
arma de Amicia, uma funda (uma espécie de fisga dos tempos medievais),
que serve para atirar pedras de modo a distrair os guardas e conseguirmos fugir
do seu campo de visão. Obviamente que existe outro tipo de confronto, mais
direcionado para o ataque direto, utilizando a funda contra os próprios vilões,
mas seria desvirtuoso o uso abusivo desse confronto, uma vez que Amicia
não é mais que uma miúda de 15 anos e nesse aspeto a Asobo Studio esteve
particularmente assertiva.
Ainda no campo da jogabilidade, A
Plague Tale Innocence tem um fator que apesar de já ter referido acima,
necessita de ser mais destacado, os ferozes roedores. Em níveis que percorremos
os espaços interiores, sobretudo nas catacumbas ou tumbas, onde a escuridão é
acentuada, as ninhadas ou melhor as hordas de ratos negros, são capazes de nos
provocar alguns saltos da cadeira, sobretudo que para aqueles que têm pavor
deste tipo de nauseoso animal. Para os afastar, Amicia por utilizar
tochas com fogo ou mesmo arremessar pedras contra candeeiros ou velas, de modo
a originar um pequeno incêndio, afoguentando-os por algum tempo, permitindo
seguir o nosso caminho.
Visualmente e para ser o mais
justo possível, apesar de existirem inúmeras situações onde o cenário está
realmente bem recriado e fiel á época onde o jogo ocorre, penso que a produção
poderia ter ido um pouco mais além. Não quero com isto afirmar que seja um
título abaixo do razoável, porque não o é de todo e até o considero que esteja num
excelente patamar, no entanto, face ao tipo de jogo que nos proporcionam,
sobretudo focado mais na história, em contraste com a pouca ação, merecia um
trabalho ainda mais dedicado, intenso e assertivo nessa área. Apraz-me, no
entanto, referir que nos encontros imediatos com os grupos de roedores, a
sensação de medo e temor transmitida através das sombras com as luzes em
espaços fechados, sentindo o aproximar dos ratos, está muito bem conseguida e
cumpre claramente os seus intentos, criar o pânico a quem estar a jogar.
Em termos de longevidade, temos
que ter em mente que A Plague Tale Innocence é uma
aventura singleplayer, sem outro tipo
de modos de jogo que possam acrescentar uma motivação extra para voltar a
reviver a experiência e para além disso o seu foco é essencialmente narrativo, diminuindo
em muito a intervenção do jogador, pelo menos a interação frenética que outros
títulos proporcionam. Esta premissa pode afastar uma grande parte dos
jogadores, mais ávidos de ação, uma vez que em A Plague Tale Innocence o
movimento e o ritmo são claramente mais pausados.
A sonoplastia está dentro dos
parâmetros esperados, ou seja, nada de muito extraordinário ou inovador, mas
claramente ao nível do que é exigível nas produções dos dias de hoje ou das
consolas da nova geração. Resta-me assinalar, que ao contrário de outros
títulos que até possuem orçamentos mais elevados, optam por não incluir o
idioma Português (já nem refiro as vozes das personagens a serem dobradas para
PT) o que para mim é incompreensível nos tempos que correm, uma vez que os
custos nem são de todo elevados, em A Plague Tale Innocence, felizmente
isso não se verifica pois temos acesso à legendagem em PT-BR, o que apesar de
não ser o cenário ideal, já é uma evolução.
Em suma, A Plague Tale Innocence é
uma aventura essencialmente narrativa que permite ter um pouco a perceção como se
sentiam as pessoas naquela terrível época. Pode não ser unanime a todos os
jogadores, mas é uma experiência enriquecedora e uma boa surpresa deste ano de
2019.
Esta análise foi realizada através de uma cópia cedida pelo distribuidor
nacional em Portugal da Focus Home Interactive.
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