JOGOS: A Plague Tale Innocence | Análise

15.5.19


Desenvolvido pelo estúdio francês Asobo Studio, responsável por jogos como ReCore ou o premiado Ratatouille e distribuído pela Focus Home Interactive, chega-nos um distinto título, A Plague Tale Innocence, onde o jogador necessita de sobreviver a um clima agonizante, em pleno século XIII, quando a população enfrentou uma das maiores epidemias da história, a Peste Negra.

Recorrendo um pouco à história mundial, a Peste Negra foi uma das mais maiores e mais devastadoras pandemias que à memória, dizimando milhões de pessoas, sobretudo na europa e ásia. Aproximadamente 200 milhões de vítimas são os números indicados nos registos sobre a Peste Negra, nomeadamente no período entre 1346 a 1353, o auge da pandemia. A disseminação da doença teve origem numas bactérias existentes nas pulgas dos ratos, mais concretamente o rato preto indiano, que facilmente mudava de local através dos navios que trafegavam do oriente para a europa. Naquela época, a proximidade de ratos com as pessoas originou que rapidamente a doença proliferasse, contagiando inúmeros cidadãos de forma avassaladora.


É nesse tenebroso cenário que as incidências do jogo ocorrem, onde o jogador assume o papel Amicia, uma jovem adolescente de 15 anos, que vive tranquilamente com os restantes elementos da sua família, numa pacata província de França. No entanto, face ao avanço incontrolável da pandemia, os problemas começam a surgir muito rapidamente. Os conflitos da Guerra dos 100 Anos assolam a nação francesa e originam a separação com os familiares, nomeadamente o pai que é assassinado brutalmente pelos cavaleiros da Inquisição Católica, precipitando que Amicia assuma o papel de protetora do seu irmão Hugo, não só procurando escapar à detenção, como tendo que lidar com a praga mortífera de roedores.

A Plague Tale Innocence é uma aventura na terceira pessoa, muito conotado com o lado histórico e bíblico do espaço temporal onde decorre a ação, tendo como base de fundo um tipo de ação furtiva, mais inclinada para o evitar dos inimigos e/ou situações que nos vão aparecendo pela frente, do que propriamente o enfrentar dos hostis olhos nos olhos. Para além desse aspeto, a jogabilidade, apesar de na sua grande maioria se resumir a isso mesmo, contêm um pouco de outro tipo de elementos, como por exemplo, a resolução de alguns quebra-cabeças que poderão ser solucionados com o auxilio de objetos existentes no meio ambiente ou recorrer à arma de Amicia, uma funda (uma espécie de fisga dos tempos medievais), que serve para atirar pedras de modo a distrair os guardas e conseguirmos fugir do seu campo de visão. Obviamente que existe outro tipo de confronto, mais direcionado para o ataque direto, utilizando a funda contra os próprios vilões, mas seria desvirtuoso o uso abusivo desse confronto, uma vez que Amicia não é mais que uma miúda de 15 anos e nesse aspeto a Asobo Studio esteve particularmente assertiva.


Ainda no campo da jogabilidade, A Plague Tale Innocence tem um fator que apesar de já ter referido acima, necessita de ser mais destacado, os ferozes roedores. Em níveis que percorremos os espaços interiores, sobretudo nas catacumbas ou tumbas, onde a escuridão é acentuada, as ninhadas ou melhor as hordas de ratos negros, são capazes de nos provocar alguns saltos da cadeira, sobretudo que para aqueles que têm pavor deste tipo de nauseoso animal. Para os afastar, Amicia por utilizar tochas com fogo ou mesmo arremessar pedras contra candeeiros ou velas, de modo a originar um pequeno incêndio, afoguentando-os por algum tempo, permitindo seguir o nosso caminho.

Visualmente e para ser o mais justo possível, apesar de existirem inúmeras situações onde o cenário está realmente bem recriado e fiel á época onde o jogo ocorre, penso que a produção poderia ter ido um pouco mais além. Não quero com isto afirmar que seja um título abaixo do razoável, porque não o é de todo e até o considero que esteja num excelente patamar, no entanto, face ao tipo de jogo que nos proporcionam, sobretudo focado mais na história, em contraste com a pouca ação, merecia um trabalho ainda mais dedicado, intenso e assertivo nessa área. Apraz-me, no entanto, referir que nos encontros imediatos com os grupos de roedores, a sensação de medo e temor transmitida através das sombras com as luzes em espaços fechados, sentindo o aproximar dos ratos, está muito bem conseguida e cumpre claramente os seus intentos, criar o pânico a quem estar a jogar.


Em termos de longevidade, temos que ter em mente que A Plague Tale Innocence é uma aventura singleplayer, sem outro tipo de modos de jogo que possam acrescentar uma motivação extra para voltar a reviver a experiência e para além disso o seu foco é essencialmente narrativo, diminuindo em muito a intervenção do jogador, pelo menos a interação frenética que outros títulos proporcionam. Esta premissa pode afastar uma grande parte dos jogadores, mais ávidos de ação, uma vez que em A Plague Tale Innocence o movimento e o ritmo são claramente mais pausados.

A sonoplastia está dentro dos parâmetros esperados, ou seja, nada de muito extraordinário ou inovador, mas claramente ao nível do que é exigível nas produções dos dias de hoje ou das consolas da nova geração. Resta-me assinalar, que ao contrário de outros títulos que até possuem orçamentos mais elevados, optam por não incluir o idioma Português (já nem refiro as vozes das personagens a serem dobradas para PT) o que para mim é incompreensível nos tempos que correm, uma vez que os custos nem são de todo elevados, em A Plague Tale Innocence, felizmente isso não se verifica pois temos acesso à legendagem em PT-BR, o que apesar de não ser o cenário ideal, já é uma evolução.


Em suma, A Plague Tale Innocence é uma aventura essencialmente narrativa que permite ter um pouco a perceção como se sentiam as pessoas naquela terrível época. Pode não ser unanime a todos os jogadores, mas é uma experiência enriquecedora e uma boa surpresa deste ano de 2019.

Esta análise foi realizada através de uma cópia cedida pelo distribuidor nacional em Portugal da Focus Home Interactive.

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