JOGOS: Just Cause 4 | Análise

21.12.18


Assim que foi anunciado e quando foram vistos os primeiros detalhes de Just Cause 4, para além de tudo o que de bom nos foi proporcionado em Just Cause 3, foi com naturalidade que o mais recente capítulo da saga das loucas aventuras de Rico Rodriguez, fosse um título muito aguardado e desejado, deste ano de 2018 que está perto do seu final.

A história de Just Cause 4 é bastante simples, aliás aqueles que já percorreram as andanças anteriores e conhecem minimamente o propósito do jogo, sabem claramente que aqui a história pode ser relegada para segundo plano. A narrativa surge apenas como elo de ligação entre as missões, muitas das quais passam por ir do ponto A ao ponto B, eliminando (ou não) todos os inimigos que vão aparecendo pela frente, de modo livre e da forma mais criativa que possam executar. Ainda assim, a ação centra-se novamente em Rico Rodriguez, novamente com o objetivo principal de libertar uma povoação da tirania do seu líder, que novamente está protegido por um grupo de mercenários com acesso à mais avançada tecnologia militar. Até aqui nada de inovador, no entanto, não pensem que Just Cause 4 é uma cópia exata do seu antecessor, ainda que as parecenças sejam demasiado evidentes. 


O local onde tudo se desenrola, de nome Solís, que é só um dos maiores mapas criados num jogo, possuí características bem próprias, sobretudo a nível climatérico. Intensos nevões, densas tempestades de areia, inúmeros trovões e até um violento tornado, são fenómenos naturais com os quais temos que saber lidar, se queremos permanecer com vida. A piorar tudo isto, os rebeldes desenvolveram meios para os utilizar em sua proteção, no entanto, Rico não está para brincadeiras e é caso para dizer “o feitiço virou contra o feiticeiro”.

Em Just Cause 4, tal como no título anterior, Rico pode utilizar o que existe no meio ambiente para levar a avante a sua demanda, desde a artilharia bélica presente, podendo optar pelo armamento mais leve até ao mais pesado, veículos ligeiros e rápidos ou blindados e lentos, entre outros, mas uma funcionalidade que já era interessante anteriormente e que neste título foi aprimorada, é sem dúvida o indispensável e já imagem de marca do título, o gancho de corda, mais conhecido por Grapling Hook. Nesta versão, a Avalanche Studios quis dar ainda mais enfase e destaque ao gancho, permitindo ao jogador diversas possibilidades de personalização, saltando logo à vista a capacidade de prender o inimigo a um balão que se eleva infinitamente pelo ar, prender os vilões aos veículos em andamento arrastando-os pelas estradas, cabos com mini propulsores que estrategicamente colocados em objetos, podem ser um meio para a destruição do local, entre outras hipóteses onde o limite é apenas a imaginação do jogador.


Claro que para desbloquearem as diferentes funções é necessário concluir determinadas missões, quer principais e em muitos dos casos, as secundárias, algo repetitivas e monótonas, mas a recompensa é bastante satisfatória, sobretudo quando estamos perante as que interagem com clima peculiar de Solís. Esta funcionalidade é sem dúvida o melhor que Just Cause 4 tem para oferecer, e afirmo com 99,9% de certeza que a grande maioria dos jogadores (eu incluído) irão brincar com o gancho, criando o caos só por criar, sem ser numa missão, com o objetivo de experimentar todas as possibilidades, sendo mais criativo e insano quanto a mente permitir. 

No entanto, quando tudo parecia que se ia conjugar de uma forma sólida e bem estruturada, num ápice Just Cause 4 deita (quase) tudo a perder. Na minha opinião, nos tempos que correm e com os equipamentos apelidados da nova geração e sobretudo comparando com outros títulos lançados anteriormente, como o próprio Just Cause 3 ou outros de diferentes estúdios de desenvolvimento aclamados pela comunidade de videojogos, é completamente impensável e intolerável, experienciar as gritantes falhas ou problemas técnicos, que ocorrem durante praticamente em todo o tempo do jogo. A plataforma utilizada para fazer esta análise foi a consola PlayStation 4 versão base e o grafismo é claramente abaixo do razoável, deparando-me constantemente com texturas aterradoras, inconstantes e inferiores ao presenciado em Just Cause 3 de 2015! Infelizmente não estou a exagerar e para ser ainda mais sincero, a mediocridade do aspeto gráfico também está presente nas cut-scenes, onde ainda é mais visível a fraca qualidade na sua generalidade. Acreditando no que foi publicado comercialmente e a nível promocional, onde o jogador era deleitado com imagens/vídeos com definição superior, é com esperança que aguardo uma atualização que corrija essa situação, caso contrário, tudo de bom existente em Just Cause 4 se desvanece efemeramente.


Outro apesto que considero ligeiramente abaixo do expectável é a simbiose entre a jogabilidade /longevidade. Percebo e compreendo a ambição da Avalanche Studios, sobretudo através do legado positivo deixado por Just Cause 3, em querer conceber algo ainda mais vasto, grandioso e imponente, de modo a cativar a atenção do jogador pelo maior tempo possível, mas às vezes dar um passo maior que a perna, pode ser prejudicial. Lamentavelmente, isso é percetível neste título, como por exemplo as inúmeras missões secundárias existentes, o que até pode ser encarado de forma positiva, mas a grande maioria delas pura e simplesmente são repetições mudando apenas de local ou o facto de ser possível voar por longos períodos de tempo, com auxilio do wingsuit de Rico, passando por checkpoints enfadonhos e constantes. Só para citar alguns, sendo claramente preferível apostar numa experiência mais curta, mas mais diversificada, equilibrada e enriquecedora.

Em suma, Just Cause 4 é claramente um sinal de ambição mal calculada e um pouco desmedia, uma vez que foi privilegiado um descomunal crescimento em detrimento do aperfeiçoamento de uma base sólida e com boas provas dadas. Grafismo a fazer lembrar outros tempos já datados e jogabilidade monótona e repetitiva, são fatores que catalogam Just Cause 4 como uma das maiores desilusões de 2018. Porém, as inovações no Grapling Hook de Rico ainda assim conseguem cativar o jogador, sobretudo para brincar com as leis da física do jogo e espalhar o caos e a desordem em Solís.


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