Fruto de um trabalho em conjunto entre a id Software, mundialmente conhecido por trabalhos como Rage, Doom ou Quake e a Avalanche Studios, através de títulos como Just Cause 3 ou Mad Max, chega-nos agora o frenético e intenso Rage 2.
A propaganda em torno de Rage
2 foi te tal ordem grandiosa, atrevendo-me mesmo a afirmar que quer os
mais assíduos, quer os mais distraídos, neste universo dos videojogos, seguramente
viram um vídeo, um anuncio nas redes sociais ou uma imagem nos inúmeros canais
de publicidade, sobre este título. Publicidade é sempre publicidade e muitas
vezes, nem sempre é fiel ao produto final, talvez por saber que assim é, apesar
de a encarar sempre com alguma contida confiança, pessoalmente, ainda assim
fiquei entusiasmado e ansioso com o que fui vendo. Por isso, os meus primeiros pontos
positivos são atribuídos a Bethesda, a editora que conseguiu
colocar o nome Rage 2 a ser visto pelos olhos de todos.
Rage 2 é a sequela do seu
antecessor, Rage lançado no ano de 2010, cuja história assenta num futuro
não muito distante, onde queda de um asteroide (99942 Apophis) sobre o planeta
Terra, originou a destruição massiva das condições de vida da população,
traduzindo-se na sua quase extinção. É então que desperta Nicholas Raine, um
soldado colocado em hibernação num abrigo subterrâneo, que tem como missão
comandar a Resistência contra a anarquia instalada no planeta, onde a Authority,
liderada pelo seu supremo General Cross e os seus exércitos
mutantes, pretendem à força governar o mundo.
É com este cenário de fundo, que Rage
2 se enquadra, ou seja, aproximadamente 30 anos após esses
acontecimentos, constatamos que afinal Raine não conseguiu erradicar
totalmente a ameaça dos mercenários mutantes da Authority, nem tão pouco
o General
Cross, que aparece agora mais poderoso e revigorado do que nunca, num
robusto e avantajado corpo mecânico, repleto de capacidade bélica. As intenções
da Authority
e do seu líder são as mesmas, tomar conta do que resta do planeta e
governar a seu belo prazer.
Sem muitas introduções o jogo é
iniciado de uma forma desvairada, fazendo jus a tudo o que foi avançado nos
trailers de antevisão, com uma veemente invasão à base da Resistência, Vineland
e apesar de nos primeiros minutos a ação se resumir a um curto tutorial da
jogabilidade, rapidamente percebemos que as hipóteses de sobrevivência são
diminutas. O jogador pode optar por encarnar numa personagem do sexo masculino
ou feminino, mas com o mesmo apelido, Walker, que de modo efémero tem que
estar apto a combater os incautos inimigos. Num ápice, a resistência e os seus Rangers
são praticamente aniquilados e a certa altura, Walker consegue recolher
a armadura de um soldado abatido e começa a dar os primeiros passos no sentido
de se tornar o último Ranger. O seu objetivo passa assumir
a liderança da Resistência e restabelecer a ordem num mundo pós-apocalíptico,
derrotando finalmente General Cross e ao mesmo tempo
saciando a sua sede de vingança.
Nove anos após o lançamento de Rage,
posso afirmar que é com uma mescla um quanto estranha, algures entre o regozijo
e a frustração, que acolho o Rage 2. Se por um lado, é
gratificante voltar a este universo apocalíptico tão sabiamente desenvolvido
pela
id Software, onde sobretudo as mecânicas de combate, tão elogiadas na
altura do lançamento como sendo uma referência na época, e poder reviver tudo
isso, obviamente agora adequado e otimizado para os equipamentos mais poderosos
atualmente. Por outro lado, é com uma sensação de inquietação que com o avançar
da trama, corroboramos que se trata de uma repetição do que se passou em Rage,
recorrendo à mesma fórmula, sem introduzir algo de realmente dissemelhante,
inovador e/ou desafiante.
Walker, tal com o seu
antecessor, Raine do primeiro Rage, necessita de encontrar os
díspares locais no gigante mapa de mundo aberto, fortemente guardados por
dementes mercenários e que escondem as Arks, contendo elementos que
potenciam as nossas capacidades. Esses elementos são apelidados de nanotrites,
uns microscópios robots que injetados no nosso organismo, conferem poderes
completamente alucinantes. Dos variados que iremos ter o prazer de ir
desbloqueando ao longo do jogo, destaco naturalmente alguns que me deram imenso
prazer de utilizar, como o Shatter que é a capacidade de dar forte
empurrão nos inimigos a curta distancia, aniquilando-os ou destruindo as suas
fortes armaduras, o Slam que é um poderoso soco no chão, destruindo grupos de
inimigos ou o Barrier que cria uma espécie de escudo protetor invisível em
redor da nossa personagem, impedindo que sofra dano.
Para ajudar a nossa demanda,
existem inúmeras armas ao dispor e que vão sendo desbloqueadas e melhoradas no
decorrer da ação, salientando que estão realmente bem recriadas e o seu poder
de fogo é mesmo impressionante. Confesso que as mais utilizadas por mim foram a
normal Ranger Assault Rifle e a Combat Shotgun, mas fiquei rendido e
extasiado com a Grav-Dart Launcher, uma espécie de lançador de dardos que
desafia as leias da gravidade, projetando os inimigos pelo ar.
Em Rage 2 existe um
complicado sistema de menus, organizados num estilo de arvore de habilidades realmente
completa e complexa, dividida em áreas. Em Inventory estão disponíveis os itens
que são injetáveis melhorando a saúde e habilidade, e os arremessáveis como o Wingstick
ou granadas, todos eles poderão ser melhorados e otimizados neste menu,
recorrendo a componentes explosivos e químicos que podem ser encontrados em determinadas
zonas do mapa. Em Nanotrites, podemos essencialmente melhorar as habilidades
desbloqueadas através das Arks, recorrendo a Feltrite,
um material que pode ser encontrado em meteoritos caídos em determinados locais
ou em outposts. Nos vendedores
ambulantes também podemos adquirir Nanotrite Boosters que melhoram as
nossas habilidades em dano e/ou distancia. Em Weapons, a troco de Feltrite
podemos melhorar o desempenho das nossas armas, adicionando elementos de
precisão ou maior capacidade de armazenamento, mas para tal necessitamos de Weapons
Core Mods que podem ser encontrados nas Arks Chests. Em Vehicles
podemos melhorar apenas o nosso primeiro carro, o icónico Phoenix, mas para tal
necessitamos de encontrar Auto Parts, que existem nas Ark Chests,
nos vendedores ou destruindo outros veículos.
Para nos movimentarmos no vasto
mapa de Rage 2, temos à disposição diversos veículos, todos eles caracterizados
bem ao estilo pós-apocalíptico, que muitas vezes nos fazem relembrar Mad
Max da Avalanche Studios. Não vou negar, os carros, os buggies ou
tanques são uteis, quer para nos deslocarmos, quer para nos auxiliar no
confronto bélico, mas muito sinceramente não estão ao mesmo nível do combate
fora do veículo. Não é propriamente fácil, atacarmos um outpost inimigo apenas ao volante de uma viatura, porque somos um
alvo demasiado fácil de destruir, face ao poderio de fogo do inimigo e as armas
não são totalmente eficazes, uma vez que aquecem rapidamente, necessitando de
um frustrante período de descanso até ficarem novamente ativas e funcionais.
No plano da jogabilidade, Rage
2 realmente começa a justificar todo o entusiasmo criado antes do seu
lançamento, pois efetivamente cumpre com larga margem os desígnios de um jogo
de tiros. Apesar da já reportada repetibilidade de missões, é com satisfação
que encaramos mais um confronto com os inimigos, seja numa base, seja num
bloqueio de estrada, seja na investigação de um meteorito, seja em que altura
for, pois a diversidade de habilidades dignas de um super-herói, de armas com
poder de fogo alucinante, de incautos uns mais mutantes que outros, originam
que nunca percamos a vontade de disparar “just
one more bullet”. No entanto, é com algum pesar que constatei que, apesar de
apresentar uma história bem estruturada, a sua duração é demasiado curta, mesmo
contabilizando as missões secundárias que aumentam um pouco mais a sua
longevidade, mas simultaneamente a repetibilidade. No entanto, atrevo-me a
afirmar que Rage 2 é daqueles jogos que mesmo depois de o terminar, a
vontade de o repetir é quase instantânea.
A nível gráfico, Rage
2 cumpre, sem nunca deslumbrar, no entanto, mostra-se estar à altura do
esperado nos dias de hoje, onde é claramente importante a fluidez e
naturalidade com todas as animações ocorrem. Uma palavra especial para o
cenário pós-apocalíptico que em determinadas bases está realmente bem
estruturado e detalhado, apesar de não ser uma constante. A sonoplastia está no
mesmo patamar que o grafismo, no entanto registo com desagrado mais uma vez a ausência
do idioma Português (já nem refiro as vozes das personagens a serem dobradas
para PT) o que para mim é incompreensível nos tempos que correm, uma vez que os
custos nem são de todo elevados.
Resumindo, Rage 2 é essencialmente
um bom shooter, com destaque claro
para uma distinta jogabilidade, pecando essencialmente no plano da longevidade.
Obviamente que faz parte da estratégia da Bethesda disponibilizar conteúdo adicional,
em formato de DLCs no decorrer do ano, mas o consumidor que adquire a versão
base merecia um pouco mais.
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