Finalmente Days Gone, um exclusivo da PlayStation 4, está disponível e chega até nós através do estúdio de desenvolvimento Bend Studio, sendo talvez o maior e mais ambicioso projeto desde o ano da sua fundação, 1993.
A tarefa que o estúdio tinha em
mãos não era propriamente simples, uma vez que o género do jogo está a ficar
cada vez mais repetitivo, tal a quantidade de títulos com a mesma premissa, por
isso era decisivo e imperial que a Bend Studio conseguisse interligar
um tema já inúmeras vezes escalpelizado com um vasto e amplo mundo aberto,
repleto de perigos e riscos. Urgia uma história forte e arrebatadora, que
conseguisse ser o elo entre esses dois aspetos e veremos mais à frente se
realmente o estúdio conseguiu alcançar esse objetivo.
Days Gone inicia-se sem
grandes explicações, apenas somos presenteados com uma cena introdutória onde
vemos os protagonistas principais a tentar escapar a algo estranho. Deacon
St. John, a nossa personagem, auxilia Sarah, a sua esposa, que
se encontra ferida, supostamente atacada por uma criança com uma faca. É
perentório fazê-la chegar ao topo de um edifício, colocando-a num helicóptero
de socorro, de modo a serem transportados para um local seguro. Mas assim que
chegam, Deacon vê-se obrigado a tomar uma decisão que o irá marcar para
o resto da sua vida, uma vez que o transporte só tem lugar para duas pessoas.
Sendo assim, Deacon tem que optar por ir com a esposa, abandonando o seu
fiel amigo Boozer, também ele maltratado ainda que com menor gravidade, ou
deixa Sarah aos cuidados da equipa de resgaste, e fica no caótico
mundo para ajudar o seu eterno amigo.
Com muito custo, Deacon
decide ficar, mas prometendo solenemente a Sarah que fará tudo o que estiver ao
seu alcance para rapidamente ir ter ao seu encalce, no entanto, assim que
termina a cutscene, constatamos que
passaram dois anos e Deacon e Boozer ainda tentam
sobreviver num mundo consumido pelo caos e repleto de Freakers. E é exatamente
nesse aspeto que começam a surgir as primeiras inovações, uma vez que ao
contrário de outros títulos onde os vulgos zombies
são lentos e previsíveis, desta feita o vírus que modificou os humanos em
horríveis seres que só possuem um objetivo em mente, devorar a carne humana,
também os dotou de destreza e velocidade de locomoção, bem acima do normal.
Atuando em grupo ou hordas, os Freakers
são completamente mortíferos, pelo que devemos ter o máximo de cuidado nos
ruídos produzidos, assim que estivermos perto de uma horda. Em caso de sermos
detetados, pouco ou nada nos valerão as armas que possuímos, pelo que o mais
sensato é mesmo fugir o mais rápido que conseguirmos, até os despistarmos
completamente. Porém, nesta localidade de Oregon, onde a ação se desenrola,
nem só o perigo advém dos Freakers, pois também existem
frações de humanos rivais, que tal os protagonistas, procuram a todo o custo
sobreviver, nem que para isso seja preciso aniquilar com as nossas intenções.
A jogabilidade de Days Gone
também incluí muitos de elementos de sobrevivência, pelo que a vasculha minuciosa
de todos os locais é essencial para aumentarmos as probabilidades de alcançar o
sucesso da nossa demanda. Podemos encontrar díspares materiais que combinados
uns com os outros permitem a criação de recursos como por exemplo, curativos
para melhorar a nossa saúde, garrafas vazias e panos inflamáveis para construir
cocktails molotov e/ou engenhos explosivos, pedaços de sucata que reparam o
nosso meio de transporte.
E já que falamos no meio de
transporte, é obrigatório mencionar a mota que temos ao dispor, essencial para
nos movermos no mapa, quer na busca de recursos, quer nas fugas estonteantes
pelo meio da vegetação, tentando escapar a todo o custo dos Freakers
e ao mesmo tempo rezando incessantemente para que o combustível não acabe ou
não tenhamos um acidente. Tal como para as nossas armas, a mota pode ser
reparada/melhorada com materiais que vão sendo encontrados no decorrer da ação.
Aumento de potência, silenciadores de ruído, depósitos de combustível maiores e
métodos de proteção mais eficientes, são alguns dos exemplos que podem e devem
ser contemplados no melhoramento do nosso motociclo. Em jeito de conselho
afirmo que o melhor é mesmo não separarem por demasiado tempo, nem ir para
muito longe da mota, pois ela pode ditar a nossa salvação!
Em Days Gone tal como já
referido anteriormente, a narrativa tem um papel de relevo, mas a forma como a Bend
Studio desenvolveu o evoluir da história tem tanto de positivo como
aborrecido. Se por um lado é louvar o facto de a progressão das missões serem
controladas, ou seja, não ficarão de uma só vez disponíveis todas as referentes
à trama principal e são intercaladas com outras de menor expressão, como
socorrer alguém pertencente a um acampamento ou mesmo limpar um ninho de Freakers,
por outro lado e agora no plano menos positivo, as missões apelidadas de
secundárias, não são nada mais do que ir do ponto A ao B, de modo a desencadear
uma cutscene que adiciona mais
detalhes sobre o passado de Deacon e Sarah, o que ao principio
pode ser interessante, mas a constante repetição do mesmo, origina algum tédio.
Visualmente, Days Gone deslumbra e
eleva ainda mais a já muito assinalável fasquia do grafismo, quando comparado
com outros exclusivos da Sony. A localidade de Oregon
está incrivelmente detalhada e em certos momentos é mesmo prazeroso estacionar
a nossa mota e apenas apreciar o mundo que nos rodeia. Cenários com densa
vegetação, misturados com lagos tranquilos, tudo isto conjugado com um clima diversificado,
resultam numa experiência extasiante para os nossos olhos, sendo no plano
visual um título obrigatório e sem dúvida um exemplo a seguir. No entanto nesse
campo é necessário salientar o longo tempo de carregamento de algumas secções
do jogo, sendo frustrante estar diversos minutos apenas olhar para um ecrã todo
negro com um pequeno ícone do anel do protagonista a rodar e algumas dicas.
A sonoplastia está ao nível que
os exclusivos da Sony já nos habituaram, ou seja, bastante acima da média e
centrando-me apenas na versão em Português, o ator Filipe Duarte empresta e bem
a sua voz à personagem principal Deacon St. John, personificando da
melhor maneira o espirito aventureiro de um motoqueiro, fazendo jus às palavras
proferidas por ele mesmo no evento de apresentação do jogo: "Foi também muito gratificante uma vez
que, tal como o Deacon, também eu sou motoqueiro".
Em suma, Days Gone consegue
conjugar dois conceitos, zombies e mundo aberto, ambos já um pouco desgastados
pela inúmera e diversificada oferta no mercado, numa experiência visualmente
encantadora, suportada numa história cativante e intensa. Apesar de não inovar
ao ponto de deslumbrar todos os amantes dos jogos, Days Gone afigura-se como
um título importante no ano de 2019. No lado menos positivo, é de ressalvar a
repetibilidade de algumas missões e os longos loadings.
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